“A tecnologia e a ampla disponibilização de dados é um fato. Ganhará quem estiver disposto a aprender a usa-los de forma inteligente e coletiva.”

Atualmente, o executivo que ocupa um dos elos da cadeia de suprimentos precisa ser analítico e principalmente ter autonomia paraa tomada de decisões rápidas. “Não existe mais espaço para políticas simplistas como a famosa ‘três cotações de fornecedores para decisão de compras’. Em resumo, não há mais espaço para análises superficiais de redução de preços. Essa abordagem já se esgotou tanto para compradores como para fornecedores, reforça Cristiane Biazzin, Coordenadora do Observatório de Compras e Suprimentos, professora nos cursos de graduação e pós graduação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV/Eaesp).

Para a consultora, crises como as que fragilizam o dia a dia da vida política e econômica do país abalam o “status quo” e fazem com que organizações se mobilizem em direção às mudanças. Várias companhias já se mostraram sábias ao incorporar novas formas de fazer negócios por conta de crises. Mas a mudança não deve ser feita apenas quando o time está perdendo: deve-se preparar e pensar em como nossa organização se posicionará no futuro e definir agora um “roadmap” para a mudança organizacional. Isso envolverá a empresa e os principais elos da cadeia de fornecimento, quebrando barreiras departamentais, feudos e egos, declara Cristiane Biazzin na entrevista publicada a seguir:

 

COSTDRIVERS – Qual é hoje em dia o papel efetivo da área de compras na organização das empresas? O que mudou?

Cristiane Biazzin – O papel do comprador tem mudado significativamente ao longo dos anos. Até os anos 80/90, Compras era um departamento meramente operacional e seu objetivo limitava-se a suprir sua organização. Hoje, tornou-se um dos principais influenciadores para geração (ou não) de vantagem competitiva para a firma. Por outro lado é uma área que está enfrentando uma transição de identidade importante. É uma área que atualmente requer profissionais multidisciplinares, com visão e participação estratégica.

 

COSTDRIVERS – De que forma contribui para a redução de custos e a posição estratégica dentro da organização?

Cristiane Biazzin – Não há mais espaço para análises superficiais de redução de preços. Essa abordagem já se esgotou tanto para compradores como para fornecedores. Porém, grande parte das organizações brasileiras ainda têm dificuldade em mensurar valor agregado e custo total de aquisições, pela complexidade de análise dos dados. Assim sendo, percebe-se que várias organizações permanecem em uma certa zona de conforto não reconhecendo a real importância estratégica da área, onde os indicadores de compras, por muitas vezes, giram em torno da evolução anual de compras (preço anterior x preço novo).  É preciso dar um passo à frente: sair da posição meramente transacional para uma função analítica muito mais profunda e complexa. Acesso a dados é algo disponível a todos atualmente.

O principal desafio para os gestores de compras e suprimentos é incorporar competências analíticas. Eles precisam desenvolver a capacidade de extrair valor dos dados coletados e conseguir incorporá-los rapidamente ao dia-dia na tomada de decisões.

 

COSTDRIVERS – Quais os principais pontos frágeis da atual estrutura de compras?

Cristiane Biazzin – É um momento difícil para organizações, pois os perfis e inter-relações na organização devem ser ajustados à nova demanda. Considerando que a incerteza é o novo “normal”, os profissionais precisam ser treinados para isso, para tomar melhores decisões, ter autonomia para decidir e definir novos processos e políticas de compras mais amplas e complexas. Algumas organizações já tem atuado dessa forma, e estão angariando um sucesso muito interessante.

 

COSTDRIVERS – O que mudou na área de compras com a revolução tecnológica digital absorvida pelas empresas?

Cristiane Biazzin – Eu diria que ainda estamos em um processo de mudança, chegamos neste momento no “centro do furação”. As organizações já passaram pela fase da automação de atividades e da inserção de sistemas para a gestão de suprimentos. Agora, precisam avaliar como irão aplicar essas tecnologias de forma a lidar com os dados hoje disponíveis. A digitalização como ferramenta de controle e redução transacional já se instalou. Dessa forma o delineamento de novos processos é necessário, considerando coleta, gestão, rastreamento e análise de dados até a incorporação de mecanismos capazes de gerir artificialmente negociações. Ainda há muito espaço para exploração em Compras. Outras áreas já avançaram muito nesse sentido, como Marketing e o relacionamento com clientes. É a hora de Compras arregaçar as mangas, mobilizar a alta liderança e buscar investimentos para trazer inteligência na tomada de decisões.

 

COSTDRIVERS – Qual o real impacto dessa revolução digital na área de compras?

Cristiane Biazzin – São vários: em primeiro lugar, uma grande mudança de perfil do profissional de compras: é preciso ser mais analítico e principalmente ter autonomia para a tomada de decisões rápidas. Não existe mais espaço para políticas simplistas como a famosa “três cotações de fornecedores para decisão de compras”… Isso não avalia a geração de valor.

 

COSTDRIVERS – As crises criam oportunidades de redução de custos dentro das empresas?

Cristiane Biazzin – As crises abalam o “status quo” e fazem com que organizações se mobilizem para a mudança. Várias organizações já se mostraram sábias ao incorporar novas formas de fazer negócios por conta de crises. Mas a mudança não deve ser feita apenas quando o time está perdendo: deve-se preparar e pensar em como nossa organização se posicionará no futuro e definir agora um “roadmap” para a mudança organizacional. Isso envolverá a empresa e os principais elos da cadeia de fornecimento, quebrando barreiras departamentais, feudos e egos.

 

COSTDRIVERS – Como a área de compras tem sobrevivido ao momento atual de crise politica e econômica brasileira?

Cristiane Biazzin – Eu tenho visto de tudo: empresas abertas ao novo e conquistando vantagem competitiva novamente e outras empresas insistindo em modelos mentais antigos e que não se encaixam mais ao novo contexto. A tecnologia e a ampla disponibilização de dados é um fato. Ganhará quem estiver disposto a aprender a usa-los de forma inteligente e coletiva.

 

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