Revolução digital obriga a repensar o processo de Compras

Ainda não é possível antever o real impacto das transformações produzidas pela revolução tecnológica digital no estilo de vida das pessoas e no ambiente de negócios, mas uma coisa é certa: o mundo em que vivemos está se tornando cada vez mais volátil, sutil e intangível… inclusive na área de Suprimentos, adverte Ricardo Amoroso, estrategista de negócios e pessoas, conselheiro e consultor de empresas, coaching de altos executivos e mentoring para startups e empresas de tecnologia.

“No modelo tradicional de Compras existia um fornecedor e um cliente comprador. Não existe mais essa fragmentação, clientes e fornecedores são lados da mesma moeda”,  constata Amoroso. Para ele, o mercado está focado na eficiência dos processos quando os processos, em certos casos, estão se transformando em algo muito diferente. “Então, é preciso repensar o processo e não apenas a eficiência dele”, recomenda o consultor da Transforming Consulting nessa entrevista concedida ao blog.

COSTDRIVERS – Quais as rupturas causadas pelas transformações tecnológicas na área de Suprimentos?

Ricardo Amoroso – Estamos vendo acontecer um conjunto de transformações tecnológicas com profundo impacto no nosso modo de trabalhar, se divertir e na maneira de nos relacionarmos com outras pessoas no mundo todo. Uma transformação muito mais impactante do que foi a Revolução Industrial, por exemplo, especialmente porque as mudanças são aceleradas, exponenciais e afetam a tudo e a todos de modo antes inimaginável. Inteligencia Artificial, Intenet das Coisas, Computação Cognitiva, Cidades Inteligentes, Carros autônomos e elétricos, Realidade Virtual, tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, criando um ambiente de volatilidade, incertezas, complexidade e ambiguidade. Ainda não é possível antever o real impacto dessas transformações, mas uma coisa é certa: o mundo em que vivemos está se tornando cada vez mais volátil, sutil, intangível.

COSTDRIVERS – Como o executivo de Compras deve lidar com esse mundo de mudanças?

Ricardo Amoroso – A primeira coisa a fazer é reconhecer que essas transformações afetam a tudo e a todos, uns mais outros menos, uns antes, outros depois. O corolário dessa situação é que precisamos ter uma atitude mental de observar atentamente essas tendências, tomando iniciativas inovadoras ou adaptativas em tudo o que fazemos. Em Compras não é diferente. Estamos acostumados, por exemplo, a olhar para a eficiência dos processos e os processos estão se transformando em algo muito diferente em certos casos. Então é preciso repensar o próprio processo e não apenas a eficiência dele. Outra coisa é que no modelo tradicional de Compras existia um fornecedor e um cliente comprador. Não existe mais essa fragmentação, clientes e fornecedores são lados da mesma moeda. Se você pensa em espremer seu fornecedor para obter vantagens em preços e prazos, considere que na expansão do empreendedorismo e das startups por exemplo você poderá deixar de ser aquele cliente gigante e único com poder de barganha para espremer fornecedores. Portanto, ao invés de olhar para o Pedido de Compra, pense no Modelo de Negócios de seu fornecedor e no seu potencial de desenvolvimento e crescimento comparado com os planos de sua empresa para o futuro.

COSTDRIVERS – Quais os principais desafios de Compras para enfrentar agora e no futuro essas “rupturas profundas”?

Ricardo Amoroso – Comprar é fazer escolhas. Estratégias também são escolhas. Escolhas implicam geralmente em comparações e hoje temos uma infinidade de informações e opiniões relevantes para fazermos escolhas. Então compras não significa apenas “adquirir” algo. Comprar pode ter o sentido de “alugar”, compartilhar ou até mesmo trocar produtos ou serviços. Mude seu formulário de Pedido de Compra para considerar isso.

COSTDRIVERS – De que forma a transformação digital e as tecnologias emergentes estarão moldando os negócios e influenciando a maneira de competir das empresas?

Ricardo Amoroso – Estão mudando os modelos de negócios. A forma como criamos valor e resolvemos o problema do cliente, a forma como entregamos as coisas, a forma como nos relacionamos com eles, a forma como cobramos pelo produto ou serviços. Fique de olho nas tendências e nos novos padrões tecnológicos e procure separar as tendências efetivas, que já se pode delinear (tais como o uso do celular como meio de pagamento por exemplo), as tendências potenciais que ainda não foram testadas totalmente e ainda não foram adotadas em larga escala. Neste ultimo caso, se olharmos por exemplo para a tecnologia do BlockChain e a difusão do Bitcoin, todo o processo de compras como é concebido hoje pode ir para o museu. As tendências efetivas, ou você as adota ou cai fora e joga outro jogo. As tendências potenciais você as monitora cuidadosamente e se move com agilidade para antecipar-se ou para moldar-se a elas.

COSTDRIVERS – Como entender o contexto das transformações e avaliar seu impacto no modelo de negócios e nas decisões estratégicas de cada organização?

Ricardo Amoroso – Reconheça o seguinte. Embora tudo pareça pasteurizado e os padrões operacionais, processos internos etc. possam sugerir coisas muito parecidas, muito iguais, não existe solução única para nada. Cada empresa precisa construir peculiaridades de seu novo modelo de negócios levando em conta tendências, tecnologia, processos, sistemas, recursos, pessoas e um jeito próprio de ser e agir. Não há nada pior a fazer do que uma escolha do tipo “me too”, ou seja, nós também fazemos assim. Cada organização deve construir  e sustentar seu espaço e território.

COSTDRIVERS – E como o pensamento estratégico e o impulso empreendedor acontecem na prática?

Ricardo Amoroso – Pensar estrategicamente é pensar alternativas. Descobrir hipóteses e testa-las. Fazer e refazer. O impulso empreendedor deve incorporar a postura criativa e inovadora de uma startup com as virtudes e experiências reais das empresas centenárias tradicionais. Mas com agilidade e flexibilidade que muitas empresas grandes não conseguem obter.

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